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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Capítulo 3 – Tradição, Tradição.


Capítulo 3 – Tradição, Tradição.


Entrei em meu quarto e, como que magnetizado, fui atraído por aquela grande bíblia negra. Era a única bíblia em nossa casa. Mamãe e papai não tinham uma. Eu não sabia de onde ela viera, mas fora desde quando podia lembrar.
As páginas mal tinham sido viradas desde a nossa chegada ao Canadá, mas agora orei: - Senhor, o Senhor precisa mostrar-me o que aconteceu hoje. – Abri a escritura e comecei a devorá-la como um homem faminto que acabou de receber um pedaço de pão.
O Espírito Santo tornou-se meu professor. Eu não tinha idéia disso no momento, mas foi exatamente o que começou milagrosamente a acontecer. Os rapazes da reunião de oração me disseram: - Olhe, é isto o que a bíblia diz. – Eles não disseram nada. De fato, não imaginava o que havia ocorrido durante as últimas vinte quatro horas. Como é natural, eu também não contei nada a meus pais.
Comecei lendo os evangelhos. Descobri-me dizendo em voz alta: - Jesus, entre em meu coração. Por favor, Senhor Jesus, entre em meu coração.
Versículo após versículo, eu vi o plano da salvação se desenrolando. Era como se eu nunca tivesse lido a bíblia antes. Oh! Meu amigo, ela estava viva. As palavras jorravam de uma fonte, e eu bebia livremente dela.
Finalmente, às três ou quatro da manhã, envolto numa paz tranqüila que não conhecera antes, adormeci.

Participando

No dia seguinte, na escola, procurei aqueles “fanáticos” e lhes disse: - Gostaria que me levassem à sua igreja.
Eles me falaram sobre um encontro semanal que freqüentavam e se ofereceram para levar-me dois dias depois.
Naquela noite de quinta feira eu me achei nas “catacumbas”. Era esse o nome que lhe davam. O culto se parecia com o da reunião de oração na escola, as pessoas levantavam as mãos, adorando o Senhor. Desta vez, porém, eu fiz o mesmo.
“Jeová Jiré, meu provedor, Sua graça é suficiente para mim”, eles repetiam cantando. Gostei dessa música desde a primeira vez que a ouvi. E gostei ainda mais quando soube que fora escrita pela mulher do pastor. Merla Watson. Seu marido, Merv, era o pastor daquele rebanho invulgar.
A igreja Catacumbas não era uma igreja típica. As pessoas que freqüentavam eram apenas um grupo exuberante de cristãos que se reunia toda noite de quinta feira na Catedral de São Paulo, uma igreja anglicana no centro de Toronto.
Aqueles dias do “Movimento de Jesus” em que os chamados “hippies” estavam sendo salvos mais depressa do que conseguiam cortar os cabelos. Por falar nisso, eu também não sentava na cadeira de barbeiro há algum tempo.
Olhei em volta. O lugar estava lotado de rapazinhos como eu. Você devia ver. Eles estavam saltando, dançando, e fazendo barulho alegre diante do Senhor. Era difícil para mim acreditar na existência de um lugar assim. Mas, de alguma forma, desde essa primeira noite, eu tive um sentimento de “pertencer”.

“Venha”

No final do encontro, Merv Watson disse: – Todos os que quiserem fazer uma confissão pública do seu pecado venham para a frente. Vamos orar com vocês enquanto pedem para Cristo entrar em seu coração.
Comecei a tiritar e tremer. Mas pensei: - Acho que não devo ir, porque já sou salvo.
– Eu sabia que o Senhor tomara o controle de minha vida às cinco para as oito da manhã de segunda–feira. E estávamos na quinta.
Você já adivinhou. Dentro de segundos me vi andando pela nave o mais depressa que podia. Eu não tinha uma noção exata do motivo que me levara a isso, mas algo dentro de mim dizia: - Vá para lá.
Foi nesse instante, num culto carismático em uma igreja anglicana, que este pequeno e bom católico de um lar grego ortodoxo fez uma confissão pública de sua aceitação de Cristo. – Jesus, – eu disse – estou pedindo que seja o Senhor da minha vida.
A Terra Prometida não podia se comparar a isto. Era muito melhor estar onde Jesus estava do que onde ele costuma estar.
Naquela noite, quando cheguei em casa, eu me sentia tão cheio da presença do Senhor que decidi contar à minha mãe o acontecido.  (Não tive coragem de contar a meu pai).
Mamãe, tenho que contar-lhe uma coisa, - falei baixinho. – Fui salvo! Num instante o queixo dela endureceu. Ela olhou fixamente para mim e falou decidida. – Salvo do que? – Confie em mim, - respondi – Você vai compreender.
Na manhã de sexta feira e durante o dia inteiro, na escola, no quiosque, em todo lugar que ia, um quadro surgia diante de mim. Eu me via pregando. Era inconcebível, mas não conseguia mudar a imagem. Eis-me ali, usando terno, cabelo cortado e bem penteado, pregando sobre uma tempestade.
Naquele dia encontrei Bob, meu amigo “estranho” que havia certa vez enchido as paredes do quiosque com trechos da bíblia. Contei resumidamente a ele o que acontecera naquela semana e lhe disse que até me vira pregando.
– Bob, – disse eu – o dia inteiro foi assim. Não consigo tirar de minha cabeça esse quadro de minha pregação em enormes campanhas ao ar livre, em estádios, em igrejas e salões de concerto. – Começando a gaguejar, eu continuei dizendo: – Posso ver as pessoas, até onde o olhar alcança. Será que estou perdendo a razão? O que você acha que significa isso?
Só pode ser uma coisa: - respondeu ele. – Deus está preparando você para um grande ministério. Acho maravilhoso.

Lançado fora

Não tive em casa este tipo de estímulo.  É claro que não podia contar a eles o que o Senhor estava fazendo. A situação era péssima.

Humilhação e vergonha

Minha família inteira começou a me provocar e ridicularizar. Foi horrível. Eu esperava isso de meu pai, mas não de minha mãe. Enquanto eu estava crescendo, ela sempre me mostrara muita afeição. Assim como meus irmãos e irmãs. Mas agora eles me tratavam com desprezo como se fosse um intruso que não pertencia à família.
“Tradição, tradição!” diz a música em um violinista no telhado. Se um oriental quebra a tradição, ele comete um pecado imperdoável. Duvido que o ocidental jamais venha entender a gravidade dessa atitude. E isso não pode ser perdoado.
Todos em casa me disseram: – Benny, você esta desgraçando o nome da família. – Suplicaram para que não desonrasse a sua reputação. Meu pai tinha sido prefeito, e lembrou-me disso. O “nome” da família estava em jogo.
Peço que me compreenda quando digo que os gregos ortodoxos e os que pertencem a outras ordens “superiores” da igreja oriental, são talvez as pessoas mais difíceis de se levar  a um cristianismo “pessoal”.
Quando me tornei um cristão nascido de novo, isso de fato os envergonhou. Por quê? Por acreditarem que eles são os cristãos verdadeiros. E possuem documentos históricos para prová-lo. São cristãos a mais tempo do que ninguém.
Mas este é o problema e fui criado com ele. A sua fé é longa na forma, ritual e dogma, mas curta na unção de Deus. Falta-lhes poder. Como resultado, não têm, virtualmente, compreensão do que significa ouvir ao Senhor ou ser “guiado pelo Espírito”.
Tornou-se óbvio que, para permanecer em minha casa, eu teria de calar-me a respeito de Cristo.
Nada, entretanto poderia diminuir as chamas de minha fé recém encontrada. Eu era como uma brasa ardente que não deixava de queimar.
Eu abria a minha enorme bíblia logo de manhã. O espírito Santo continuava a revelar a palavra, mas isso não bastava. Toda noite em que podia “escapar” de casa, ia para um culto da igreja, uma reunião de jovens ou de oração. Nas noites de quinta feira voltava às Catacumbas.
Jamais poderei apagar da memória o dia em que mencionei a Jesus em nossa casa.
Meu pai se aproximou de mim e esbofeteou-me. Senti a dor. Não eram as pedras de Jerusalém desta vez, mas um tipo diferente de sofrimento. A dor que senti era pela minha família. Eu os amava tanto e queria mais que tudo a sua salvação.
A culpa foi realmente minha. Meu pai tinha me avisado: – Se mencionar outra vez o nome de Jesus, desejará não tê-lo feito. – ele rosnou ao ameaçar pôr-me fora de casa.
Comecei a falar com minha irmãzinha Mary sobre o Senhor. Meu pai descobriu e seu ódio ferveu novamente. Ele me proibiu de falar com ela sobre coisas espirituais.

Hora do psiquiatra

Até meus irmãos me perseguiam. Eles me chamavam de todo nome em que podiam pensar e até alguns mais vulgares. E isso por muito tempo. Eu orava em meu quarto – Senhor, será que não vão parar? Será que vão Te conhecer um dia?
As coisas chegaram a um ponto que eu não podia conversar com nenhum membro da família. Não precisei procurar a definição de ostracismo.
Eles fizeram minha avó voar de Israel para me dizer que estava louco. – Você é um embaraço para o nome da família – disse ela. – Não compreende a vergonha que está causando?
Meu pai marcou uma consulta no psiquiatra. Papai evidentemente achava que eu tinha perdido a razão. E qual foi a conclusão do médico?
– Seu filho talvez esteja atravessando uma espécie de fase. Ele vai sair dela.
Seu método seguinte foi arranjar-me um emprego que me ocupasse, a ponto de não ter tempo para aquele “Jesus”. Ele procurou um de seus amigos dizendo – Gostaria que oferecesse um emprego para meu filho Benny.
Papai me levou até ao escritório dele e esperou no carro enquanto entrava. O homem era um dos mais rudes, grosseiros e mesquinhos que eu já encontrara. Claro que não poderia trabalhar para alguém assim.
Voltei para o carro e disse: – Papai, eu não conseguiria trabalhar com um chefe desses.
Tive pena de meu pai naquele dia. Ele estava no fim dos seus recursos. E me disse: – Benny, o que quer que faça por você? Pode dizer. Farei tudo o que pedir, basta que abandone esse Jesus.
Papai – respondi, – você pode pedir o que quiser, mas eu prefiro morrer a desistir do que encontrei.
Foi uma cena deprimente. Ele se transformou de um pai amigo em um estranho sarcástico. Tudo que tinha a oferecer era outra torrente de ódio, novas acusações verbais.
Durante um ano – quase dois – meu pai e eu quase não nos comunicamos. Ele não olhava para mim na mesa do jantar. Eu era completamente ignorado. Tornou-se finalmente insuportável até sentar-me e assistir ao noticiário com minha família.
O que restava então? Mas, em retrospecto, posso ver que o Senhor sabia exatamente o que estava fazendo. Minha bíblia sempre estava aberta. Eu orava. Eu estudava. Eu me banqueteava com o maná celestial que iria me sustentar nos anos subseqüentes.

Devo obedecer ao Senhor

Minha ida à igreja era um problema gigantesco. Como desejava fazê-lo! Mas meu pai tinha dito – Absolutamente não – repetidas vezes. De fato, essas foram praticamente as únicas conversas que tivemos – brigas por causa da casa do Senhor.Os orientais consideram a desobediência aos pais inconcebível. Mas agora eu tinha quase vinte e um anos. E me lembro vivamente da noite em que tomei coragem para dizer ao meu pai – Posso obedecê-lo em qualquer coisa, mas na questão de ir à igreja não vou obedecer. Devo obedecer ao Senhor! Ele ficou estupefato. Parecia que alguém dera um tiro nele e pareceu ficar ainda mais indignado.
Por respeito, fiz o possível para ser obediente. Eu perguntava: – Posso ir à reunião esta noite? – Ele respondia não e eu ia para o meu quarto orar: – Por favor, Senhor, faça o meu pai mudar de idéia.
Eu descia então novamente e perguntava: – Posso ir?- Não, resmungava ele. E eu voltava para o quarto. Aos poucos ele começou a ceder. Ele sabia que era uma batalha perdida. As Catacumbas alugaram um outro prédio para os cultos de domingo e eu pude comparecer. Os estudos bíblicos eram feitos nas terças e sextas feiras, e havia um encontro de jovens nas noites de sábado. Essas reuniões constituíam toda a minha vida.
Nos dois anos após minha conversão, meu crescimento espiritual foi como o de um foguete entrando em órbita. Em fins de 1973, Merv e Merla Watson começaram a convidar-me para juntar-me a eles na plataforma para ajudar na liderança do culto e dos cânticos.
Mas eu não tinha condições de falar em público.
Jim Poynter, o pastor Metodista Livre, cheio do Espírito, me viu naquele local e um dia ele parou no quiosque na alameda só para falar das coisas do Senhor. Foi nessa ocasião que me convidou para acompanhá-lo à reunião da Srta. Kuhlman em Pittsburgh.
Meu encontro pessoal com o Espírito Santo depois daquela reunião foi assombroso.
Mas levei alguns dias para compreender as dimensões da revelação de Deus para mim.
Mais ou menos nessa época, eu mudei de emprego. Aceitei o cargo de escriturário na diretoria da escola católica de Toronto. Estou certo de que tinham suas dúvidas sobre mim às vezes. Eu ria sozinho só de pensar no que Deus estava fazendo na minha vida.
No momento em que meu trabalho terminava, eu corria para casa, subia as escadas e começava a falar com Ele: – Oh, Espírito Santo, estou tão contente por estar de volta a sós contigo. – Ele estava sempre comigo, é verdade, mas meu quarto tornou-se um lugar sagrado, muito especial. Algumas vezes, quando não ia trabalhar, eu ficava em casa o dia todo em comunhão com Ele.
O que eu estava fazendo? Tendo comunhão. Comunhão com o Espírito. Quando não estava no emprego ou em meu quarto, eu tentava ir à igreja. Mas, não contava a ninguém o que acontecia comigo.
Quando saía de casa pela manhã, Ele me acompanhava. Eu sentia alguém ao meu lado. No ônibus sentia o ímpeto de falar com Ele, mas não queria que as pessoas pensassem que era louco. Mesmo no trabalho, eu falava com Ele baixinho em certas horas. No almoço, Ele era o meu companheiro. Mas dia após dia, ao chegar em casa, subia a escada aos tropeções, fechava a porta do quarto e dizia: – Agora estamos sozinhos.
E minha jornada espiritual continuava.

Unção no carro

Quero explicar que muitas vezes eu não notava sua presença.  Sabia que estava comigo, mas me acostumara tanto a Ele que não sentia mais a eletricidade daquelas ocasiões especiais.
Outras pessoas, porém, sentiam. Muitas vezes, quando meus amigos vinham ver-me, eles começavam a chorar por causa da presença do Espírito Santo.
Certo dia, Jim Poynter me telefonou, dizendo: – Vou buscar você para levá-lo a uma igreja Metodista onde estou cantando. Pode cantar comigo se quiser. – Eu não era um verdadeiro cantor, mas ajudava de vez em quando.
Nessa tarde, a unção do espírito me envolveu novamente. Depois ouvi Jim apertando a buzina. Quando desci correndo a escada e fui até o carro, eu senti a presença do Senhor correndo comigo.
No momento em que pulei para o assento dianteiro e fechei a porta, Jim começou a chorar. Ele cantou depois o coro “Aleluia! Aleluia!”, e, voltando-se para mim disse: - Benny, posso sentir o Espírito Santo neste carro.
É claro que Sua presença está neste carro – respondi. – Onde mais poderia estar?
Isso para mim se tornara normal, mas Jim quase não conseguia dirigir. Ele continuou a chorar diante do Senhor.
Certa vez minha mãe estava limpando o corredor, enquanto eu falava com o Espírito Santo. Quando eu saí, ela quase foi derrubada. Algo a empurrou contra a parede. Eu disse: – O que aconteceu, mamãe? – Ela replicou: – Não sei. – A presença do Senhor quase a fez cair.
Meus irmãos irão contar sobre as vezes em que se aproximavam de mim e não sabiam o que estava acontecendo, mas sentiam alguma coisa extraordinária.
Com o passar do tempo, perdi a vontade de sair com os jovens da igreja só para me divertir. Eu queria ficar com o Senhor, dizendo muitas vezes: – Senhor, prefiro isto a qualquer coisa que o mundo possa oferecer. – Eles podiam ter os seus jogos, suas diversões, seu futebol – eu não precisava disso.
O que eu quero, eu já tenho – eu disse ao Senhor. – O que quer que seja, não permita que vá embora. Comecei a compreender melhor o desejo do apóstolo Paulo pela “comunhão do Espírito”.

Henry, Mary, Sammy e Willie

Agora, até os membros de minha família tinham começado a fazer perguntas. O Espírito Santo permeou de tal forma nossa casa, que meus irmão e irmãs começaram a demonstrar sede espiritual.
Um a um, eles me procuravam para fazer indagações. Eles diziam: – Benny, tenho observado você. Esse Jesus é real, não e?
Minha irmã Mary entregou seu coração ao Senhor. E em poucos meses me irmãozinho Sammy foi salvo. Depois veio o Willie.
Tudo o que eu podia fazer era gritar: “Aleluia!”. Estava acontecendo, e eu nem sequer começara a pregar.
A essa altura meu pai estava praticamente insano, estaria perdendo a família inteira para Jesus? Ele não sabia como enfrentar a situação. Mas não havia dúvidas de que minha mãe e meu pai podiam ver a transformação que ocorrera em mim, em meus dois irmãos e em Mary.
Quando dei minha vida ao Senhor, tive alguns encontros maravilhosos com Ele.
Mas eles nada significavam em comparação com o meu andar diário com o Espírito Santo.
O Senhor visitava agora realmente o meu quarto. A glória enchia aquele lugar.  Alguns dias eu orava de joelhos, adorando ao Senhor, durante oito, nove ou dez horas seguidas. O ano de 1974 derramou um fluxo sem fim do poder de Deus em minha vida. Bastava eu dizer: – Bom dia, Espírito Santo – e tudo começava. A glória do Senhor permaneceu comigo.
Certo dia, no mês de abril, eu pensei: – Deve haver uma razão para isso . – Perguntei, então: – Senhor, por que está fazendo tanto para mim? – Eu sabia que Deus não proporciona piqueniques espirituais para as pessoas para sempre.
Comecei então a orar e foi isto que Deus me revelou:
Vi alguém de pé em minha frente. As chamas o rodeavam completamente e ele se movia sem qualquer controle. Seus pés tocavam o solo. A boca desse ser abria e fechava – à semelhança do que a palavra descreve como “ranger de dentes”.
Nesse momento o Senhor falou comigo, em voz audível, dizendo: – Pregue o evangelho.
Minha resposta foi, naturalmente: – Mas, Senhor, não sei falar.
Duas noites mais tarde o Senhor me deu um segundo sonho. Eu vi um anjo. Ele tinha uma corrente na mão, presa a uma porta que parecia encher todo o céu. Ele a abriu, e lá dentro havia uma multidão incontável. Almas. Elas estavam se movendo em direção a um vale grande e profundo, e o vale era um inferno de fogo crepitante.
Dava medo. Vi milhares de pessoas caindo naquele fogo. As da primeira fila tentavam lutar, mas o peso da multidão os empurrava para as chamas.
O Senhor falou de novo comigo. Ele disse muito claramente: – Se você não pregar, todos os que caírem serão sua responsabilidade. – Eu soube no mesmo instante que tudo que acontecera na minha vida tinha um propósito – pregar o evangelho.

Aconteceu em Oshawa

A comunhão continuou. A glória continuou. A presença do Senhor não foi embora,  mas intensificou-se. A palavra tornou-se mais real. A minha vida de oração fortaleceu-se.
Finalmente, em novembro de 1974, não pude mais evitar o assunto. Eu disse ao Senhor: - pregarei o evangelho com uma condição: o Senhor ficará comigo em cada culto. – A seguir, eu fiz com que lembrasse: – Senhor, Tu sabes que não posso falar. – Eu me preocupava muito com a minha dificuldade em falar e com o fato de que iria ficar embaraçado.
Era impossível, porém apagar de minha mente o quadro de um homem queimando e as palavras do Senhor – se você não pregar, todo aquele que cair será sua responsabilidade.
Pensei, – preciso começar a pregar. – Mas entregar folheto não seria suficiente?
Numa tarde, na primeira semana de dezembro, eu estava sentado na casa de Stan e Shirley Phillips em Osawa, a cerca de 480 km a leste de Toronto.
Posso dizer uma coisa a vocês? – perguntei. Eu nunca tivera a vontade de contar a alguém toda a história de minhas experiências, sonhos e visões. Mas durante quase três horas, eu abri o coração, contando a eles coisas que só o Senhor e eu conhecíamos.
Antes de terminar, Stanley me interrompeu, dizendo – Benny, você precisa ir à nossa igreja hoje e falar sobre isso. – Eles tinham uma comunidade chamada Shilo – cerca de cem pessoas, na Assembléia de Deus de Trinity, em Osawa.
Gostaria que me visse. Meu cabelo chegava aos ombros e eu não tinha me vestido para ir à igreja porque o convite fora totalmente inesperado.
Mas em 07 de dezembro de 1974, Stan me apresentou ao grupo e pela primeira vez em minha vida entrei num púlpito para pregar.
No instante em que abri a boca, senti algo tocar minha língua e libertá-la. Parecia um adormecimento, e comecei a proclamar a palavra de Deus com a mais absoluta fluência.
O que surpreendeu é que Deus não me curou quando eu estava sentado no auditório.
Ele não me curou quando subi para a plataforma. Ele me curou quando entrei no púlpito.
Deus realizou o milagre quando abri a boca.
Quando minha língua soltou-se, eu disse: – É isso! – A gagueira se fora. Todinha. E não voltou mais. Meus pais não sabiam que eu tinha sido curado porque a comunicação em nossa casa era mínima. É claro que certas ocasiões eu conseguia falar por curto espaço de tempo sem que meu problema fosse notado, antes que alguma coisa me fizesse gaguejar de novo.
Mas eu sabia que estava curado. E meu ministério começou a crescer rapidamente.
Parecia que eu era convidado todos os dias para ministrar em uma igreja ou grupo comunitário.
Eu me sentia no centro da perfeita Vontade de Deus

Vou morrer

Nos cinco meses seguintes fui um pregador, sem que meus pais soubessem. Manter a situação em segredo por tanto tempo foi praticamente um milagre. Meus irmãos sabiam, mas não ousavam contar a papai, porque seria o fim de Benny.
No jornal Toronto Star, em abril de 1975 foi publicado um anúncio com a minha fotografia. Eu estava pregando numa pequena igreja pentecostal no lado oeste da cidade e o pastor queria atrair alguns visitantes.
Funcionou. Constandi e Clemence viram o anúncio. Eu estava sentado na plataforma naquela noite de domingo. Levantei os olhos e não podia crer no que estava vendo. Meus pais caminhavam para um assento nas poucas fileiras da plataforma.
Pensei: – Chegou a hora. Vou morrer.
Meu bom amigo Jim Poynter estava sentado na plataforma ao meu lado. Virei-me para ele e disse: – Ore, Jim! Ore! – Ele ficou pasmo quando falei da presença de meus pais.
Milhares de pensamentos passaram pela minha mente, sendo este um deles: – Senhor, saberei que realmente estou curado se não gaguejar esta noite. – Lembrei-me de uma outra vez em que também ficara nervoso durante uma reunião e a ansiedade sempre me levava a gaguejar.
Quando comecei a pregação, o poder da presença de Deus começou a fluir através de mim, mas eu não conseguia olhar na direção dos meus pais, nem um instante sequer. Só sabia que a minha preocupação com a gagueira tinha sido desnecessária. Quando Deus me curou, a cura foi permanente.
Perto do final do culto, comecei a orar pelos que precisavam de cura. Oh!, Como o poder de Deus encheu aquele lugar! Ao terminar a reunião, meus pais se levantaram e saíram pela porta de trás. Eu disse mais tarde a Jim: – Você precisa orar. Sabe que nas próximas horas vai ser decidido o meu destino? Talvez tenha de dormir hoje em sua casa.
Naquela noite fiquei rodando sem rumo pelas ruas de Toronto. Eu queria esperar pelos menos até duas horas da manhã para entrar em casa, pois tinha certeza que meus pais estariam dormindo a essa hora.
Eu não queria ter de enfrentá-los.
Mas falarei sobre isto depois.
rar. Ma� ! � f �f o que dizer. A “Ave Maria”, não me parecia apropriada para o que estava sentindo. Eu jamais aprendera a “oração do pecador“ em qualquer uma de minhas aulas de religião. Tudo que conseguia lembrar de meus encontros com o “povo de Jesus” era a frase: “Você precisa conhecer Jesus”.  Essas palavras pareciam deslocadas para mim porque eu achava que O conhecia.
Foi um momento embaraçoso. Ninguém estava orando comigo ou sequer por mim.
Todavia, a atmosfera espiritual mais intensa que já sentira me cercava. Seria eu um pecador? Não achava que era. Eu era apenas um bom rapazinho católico, que orava todas as noites e confessava o seu pecado quer necessitasse ou não.
Mas naquele instante fechei os olhos e disse três palavras que mudaram a minha vida para sempre. Eu disse em voz alta: – Volte, Senhor Jesus.
Não sei por que falei isso, mas foi só o que saiu da minha boca. Repeti várias vezes essas palavras: – Volte, Senhor Jesus, Volte, Senhor Jesus.
Eu pensava que Ele saíra da minha casa ou de minha vida? Na verdade não sabia.
Mas no momento em que pronunciei essas palavras um sentimento estranho me envolveu, levando-me de volta ao torpor que sentira aos onze anos. Era menos intenso, mas a voltagem daquela mesma força se repetira em mim. Ela me atravessava.
O que realmente percebi, no entanto, foi aquela onda de poder me purificando – instantaneamente, de dentro para fora. Eu me senti absolutamente limpo, imaculado e puro.
De repente via a Jesus com os meus próprios olhos. Aconteceu num momento. Ali estava Ele, Jesus.

Cinco para as oito

Os alunos ao meu redor não podiam saber o que se passava comigo. Estavam todos orando. A seguir, um a um, eles começaram a sair da sala dirigindo-se para as classes.
Faltavam cinco minutos para as oito horas da manhã. A essa altura eu me encontrava ali sentado, chorando. Não sabia o que fazer nem o que dizer.
Não entendi na hora o que ocorrera, mas Jesus se tornou tão real para mim como o chão debaixo dos meus pés. Eu não fiz qualquer oração, além daquelas três palavras.
Sabia, porém, sem qualquer dúvida, que algo extraordinário acontecera naquela manhã de fevereiro.
Atrasara-me para a aula de História, que era uma das minhas matérias favoritas.
Estávamos estudando a Revolução Chinesa. As palavras do professor ficaram, entretanto, perdidas para mim. Não me lembro de nada do que foi dito. A sensação que começara naquela manhã não me abandonava. Cada vez que eu fechava os olhos, ali estava Ele – Jesus. E mesmo quando abria os olhos, Ele continuava ali. O semblante do Senhor não me deixava.
Fiquei enxugando as lágrimas dos olhos o dia inteiro. E a única coisa que podia dizer era: – Jesus, eu O amo... Jesus, eu O amo.
Quando saí da escola andei pela calçada até a esquina, olhei para a janela da biblioteca e as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar.
O anjo. O sonho. Tudo voltou.
O que Deus estava querendo dizer-me?
O que ocorria com Benny?

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