Capítulo 3 – Tradição, Tradição.
Entrei em meu quarto e,
como que magnetizado, fui atraído por aquela grande bíblia negra. Era a única
bíblia em nossa casa. Mamãe e papai não tinham uma. Eu não sabia de onde ela
viera, mas fora desde quando podia lembrar.
As páginas mal tinham
sido viradas desde a nossa chegada ao Canadá, mas agora orei: - Senhor, o
Senhor precisa mostrar-me o que aconteceu hoje. – Abri a escritura e comecei a
devorá-la como um homem faminto que acabou de receber um pedaço de pão.
O Espírito Santo tornou-se
meu professor. Eu não tinha idéia disso no momento, mas foi exatamente o que
começou milagrosamente a acontecer. Os rapazes da reunião de oração me disseram:
- Olhe, é isto o que a bíblia diz. – Eles não disseram nada. De fato, não imaginava
o que havia ocorrido durante as últimas vinte quatro horas. Como é natural, eu
também não contei nada a meus pais.
Comecei lendo os
evangelhos. Descobri-me dizendo em voz alta: - Jesus, entre em meu coração. Por
favor, Senhor Jesus, entre em meu coração.
Versículo após versículo,
eu vi o plano da salvação se desenrolando. Era como se eu nunca tivesse lido a
bíblia antes. Oh! Meu amigo, ela estava viva. As palavras jorravam de uma
fonte, e eu bebia livremente dela.
Finalmente, às três ou
quatro da manhã, envolto numa paz tranqüila que não conhecera antes, adormeci.
Participando
No dia seguinte, na
escola, procurei aqueles “fanáticos” e lhes disse: - Gostaria que me levassem à
sua igreja.
Eles me falaram sobre um
encontro semanal que freqüentavam e se ofereceram para levar-me dois dias
depois.
Naquela noite de quinta
feira eu me achei nas “catacumbas”. Era esse o nome que lhe davam. O culto se
parecia com o da reunião de oração na escola, as pessoas levantavam as mãos,
adorando o Senhor. Desta vez, porém, eu fiz o mesmo.
“Jeová Jiré, meu
provedor, Sua graça é suficiente para mim”, eles repetiam cantando. Gostei
dessa música desde a primeira vez que a ouvi. E gostei ainda mais quando soube
que fora escrita pela mulher do pastor. Merla Watson. Seu marido, Merv, era o
pastor daquele rebanho invulgar.
A igreja Catacumbas não
era uma igreja típica. As pessoas que freqüentavam eram apenas um grupo
exuberante de cristãos que se reunia toda noite de quinta feira na Catedral de
São Paulo, uma igreja anglicana no centro de Toronto.
Aqueles dias do
“Movimento de Jesus” em que os chamados “hippies” estavam sendo salvos mais
depressa do que conseguiam cortar os cabelos. Por falar nisso, eu também não
sentava na cadeira de barbeiro há algum tempo.
Olhei em volta. O lugar estava
lotado de rapazinhos como eu. Você devia ver. Eles estavam saltando, dançando,
e fazendo barulho alegre diante do Senhor. Era difícil para mim acreditar na
existência de um lugar assim. Mas, de alguma forma, desde essa primeira noite,
eu tive um sentimento de “pertencer”.
“Venha”
No final do encontro,
Merv Watson disse: – Todos os que quiserem fazer uma confissão pública do seu
pecado venham para a frente. Vamos orar com vocês enquanto pedem para Cristo
entrar em seu coração.
Comecei a tiritar e
tremer. Mas pensei: - Acho que não devo ir, porque já sou salvo.
– Eu sabia que o Senhor
tomara o controle de minha vida às cinco para as oito da manhã de
segunda–feira. E estávamos na quinta.
Você já adivinhou. Dentro
de segundos me vi andando pela nave o mais depressa que podia. Eu não tinha uma
noção exata do motivo que me levara a isso, mas algo dentro de mim dizia: - Vá
para lá.
Foi nesse instante, num
culto carismático em uma igreja anglicana, que este pequeno e bom católico de
um lar grego ortodoxo fez uma confissão pública de sua aceitação de Cristo. –
Jesus, – eu disse – estou pedindo que seja o Senhor da minha vida.
A Terra Prometida não
podia se comparar a isto. Era muito melhor estar onde Jesus estava do que onde
ele costuma estar.
Naquela noite, quando
cheguei em casa, eu me sentia tão cheio da presença do Senhor que decidi contar
à minha mãe o acontecido. (Não tive
coragem de contar a meu pai).
Mamãe, tenho que
contar-lhe uma coisa, - falei baixinho. – Fui salvo! Num instante o queixo dela
endureceu. Ela olhou fixamente para mim e falou decidida. – Salvo do que? –
Confie em mim, - respondi – Você vai compreender.
Na manhã de sexta feira e
durante o dia inteiro, na escola, no quiosque, em todo lugar que ia, um quadro
surgia diante de mim. Eu me via pregando. Era inconcebível, mas não conseguia
mudar a imagem. Eis-me ali, usando terno, cabelo cortado e bem penteado,
pregando sobre uma tempestade.
Naquele dia encontrei
Bob, meu amigo “estranho” que havia certa vez enchido as paredes do quiosque
com trechos da bíblia. Contei resumidamente a ele o que acontecera naquela
semana e lhe disse que até me vira pregando.
– Bob, – disse eu – o dia
inteiro foi assim. Não consigo tirar de minha cabeça esse quadro de minha
pregação em enormes campanhas ao ar livre, em estádios, em igrejas e salões de
concerto. – Começando a gaguejar, eu continuei dizendo: – Posso ver as pessoas,
até onde o olhar alcança. Será que estou perdendo a razão? O que você acha que
significa isso?
Só pode ser uma coisa: -
respondeu ele. – Deus está preparando você para um grande ministério. Acho
maravilhoso.
Lançado fora
Não tive em casa este
tipo de estímulo. É claro que não podia
contar a eles o que o Senhor estava fazendo. A situação era péssima.
Humilhação e vergonha
Minha família inteira
começou a me provocar e ridicularizar. Foi horrível. Eu esperava isso de meu
pai, mas não de minha mãe. Enquanto eu estava crescendo, ela sempre me mostrara
muita afeição. Assim como meus irmãos e irmãs. Mas agora eles me tratavam com
desprezo como se fosse um intruso que não pertencia à família.
“Tradição, tradição!” diz
a música em um violinista no telhado. Se um oriental quebra a tradição, ele
comete um pecado imperdoável. Duvido que o ocidental jamais venha entender a
gravidade dessa atitude. E isso não pode ser perdoado.
Todos em casa me disseram:
– Benny, você esta desgraçando o nome da família. – Suplicaram para que não
desonrasse a sua reputação. Meu pai tinha sido prefeito, e lembrou-me disso. O
“nome” da família estava em jogo.
Peço que me compreenda
quando digo que os gregos ortodoxos e os que pertencem a outras ordens
“superiores” da igreja oriental, são talvez as pessoas mais difíceis de se
levar a um cristianismo “pessoal”.
Quando me tornei um
cristão nascido de novo, isso de fato os envergonhou. Por quê? Por acreditarem
que eles são os cristãos verdadeiros. E possuem documentos históricos para
prová-lo. São cristãos a mais tempo do que ninguém.
Mas este é o problema e
fui criado com ele. A sua fé é longa na forma, ritual e dogma, mas curta na
unção de Deus. Falta-lhes poder. Como resultado, não têm, virtualmente,
compreensão do que significa ouvir ao Senhor ou ser “guiado pelo Espírito”.
Tornou-se óbvio que, para
permanecer em minha casa, eu teria de calar-me a respeito de Cristo.
Nada, entretanto poderia
diminuir as chamas de minha fé recém encontrada. Eu era como uma brasa ardente
que não deixava de queimar.
Eu abria a minha enorme
bíblia logo de manhã. O espírito Santo continuava a revelar a palavra, mas isso
não bastava. Toda noite em que podia “escapar” de casa, ia para um culto da
igreja, uma reunião de jovens ou de oração. Nas noites de quinta feira voltava
às Catacumbas.
Jamais poderei apagar da
memória o dia em que mencionei a Jesus em nossa casa.
Meu pai se aproximou de
mim e esbofeteou-me. Senti a dor. Não eram as pedras de Jerusalém desta vez,
mas um tipo diferente de sofrimento. A dor que senti era pela minha família. Eu
os amava tanto e queria mais que tudo a sua salvação.
A culpa foi realmente
minha. Meu pai tinha me avisado: – Se mencionar outra vez o nome de Jesus,
desejará não tê-lo feito. – ele rosnou ao ameaçar pôr-me fora de casa.
Comecei a falar com minha
irmãzinha Mary sobre o Senhor. Meu pai descobriu e seu ódio ferveu novamente.
Ele me proibiu de falar com ela sobre coisas espirituais.
Hora do psiquiatra
Até meus irmãos me
perseguiam. Eles me chamavam de todo nome em que podiam pensar e até alguns
mais vulgares. E isso por muito tempo. Eu orava em meu quarto – Senhor, será
que não vão parar? Será que vão Te conhecer um dia?
As coisas chegaram a um
ponto que eu não podia conversar com nenhum membro da família. Não precisei
procurar a definição de ostracismo.
Eles fizeram minha avó
voar de Israel para me dizer que estava louco. – Você é um embaraço para o nome
da família – disse ela. – Não compreende a vergonha que está causando?
Meu pai marcou uma
consulta no psiquiatra. Papai evidentemente achava que eu tinha perdido a
razão. E qual foi a conclusão do médico?
– Seu filho talvez esteja
atravessando uma espécie de fase. Ele vai sair dela.
Seu método seguinte foi
arranjar-me um emprego que me ocupasse, a ponto de não ter tempo para aquele
“Jesus”. Ele procurou um de seus amigos dizendo – Gostaria que oferecesse um
emprego para meu filho Benny.
Papai me levou até ao
escritório dele e esperou no carro enquanto entrava. O homem era um dos mais
rudes, grosseiros e mesquinhos que eu já encontrara. Claro que não poderia
trabalhar para alguém assim.
Voltei para o carro e
disse: – Papai, eu não conseguiria trabalhar com um chefe desses.
Tive pena de meu pai
naquele dia. Ele estava no fim dos seus recursos. E me disse: – Benny, o que
quer que faça por você? Pode dizer. Farei tudo o que pedir, basta que abandone
esse Jesus.
Papai – respondi, – você
pode pedir o que quiser, mas eu prefiro morrer a desistir do que encontrei.
Foi uma cena deprimente.
Ele se transformou de um pai amigo em um estranho sarcástico. Tudo que tinha a
oferecer era outra torrente de ódio, novas acusações verbais.
Durante um ano – quase
dois – meu pai e eu quase não nos comunicamos. Ele não olhava para mim na mesa
do jantar. Eu era completamente ignorado. Tornou-se finalmente insuportável até
sentar-me e assistir ao noticiário com minha família.
O que restava então? Mas,
em retrospecto, posso ver que o Senhor sabia exatamente o que estava fazendo.
Minha bíblia sempre estava aberta. Eu orava. Eu estudava. Eu me banqueteava com
o maná celestial que iria me sustentar nos anos subseqüentes.
Devo obedecer ao Senhor
Minha ida à igreja era um
problema gigantesco. Como desejava fazê-lo! Mas meu pai tinha dito –
Absolutamente não – repetidas vezes. De fato, essas foram praticamente as
únicas conversas que tivemos – brigas por causa da casa do Senhor.Os orientais
consideram a desobediência aos pais inconcebível. Mas agora eu tinha quase
vinte e um anos. E me lembro vivamente da noite em que tomei coragem para dizer
ao meu pai – Posso obedecê-lo em qualquer coisa, mas na questão de ir à igreja
não vou obedecer. Devo obedecer ao Senhor! Ele ficou estupefato. Parecia que
alguém dera um tiro nele e pareceu ficar ainda mais indignado.
Por respeito, fiz o
possível para ser obediente. Eu perguntava: – Posso ir à reunião esta noite? –
Ele respondia não e eu ia para o meu quarto orar: – Por favor, Senhor, faça o
meu pai mudar de idéia.
Eu descia então novamente
e perguntava: – Posso ir?- Não, resmungava ele. E eu voltava para o quarto. Aos
poucos ele começou a ceder. Ele sabia que era uma batalha perdida. As
Catacumbas alugaram um outro prédio para os cultos de domingo e eu pude
comparecer. Os estudos bíblicos eram feitos nas terças e sextas feiras, e havia
um encontro de jovens nas noites de sábado. Essas reuniões constituíam toda a
minha vida.
Nos dois anos após minha
conversão, meu crescimento espiritual foi como o de um foguete entrando em
órbita. Em fins de 1973, Merv e Merla Watson começaram a convidar-me para
juntar-me a eles na plataforma para ajudar na liderança do culto e dos
cânticos.
Mas eu não tinha
condições de falar em público.
Jim Poynter, o pastor
Metodista Livre, cheio do Espírito, me viu naquele local e um dia ele parou no
quiosque na alameda só para falar das coisas do Senhor. Foi nessa ocasião que
me convidou para acompanhá-lo à reunião da Srta. Kuhlman em Pittsburgh.
Meu encontro pessoal com
o Espírito Santo depois daquela reunião foi assombroso.
Mas levei alguns dias
para compreender as dimensões da revelação de Deus para mim.
Mais ou menos nessa época,
eu mudei de emprego. Aceitei o cargo de escriturário na diretoria da escola
católica de Toronto. Estou certo de que tinham suas dúvidas sobre mim às vezes.
Eu ria sozinho só de pensar no que Deus estava fazendo na minha vida.
No momento em que meu
trabalho terminava, eu corria para casa, subia as escadas e começava a falar
com Ele: – Oh, Espírito Santo, estou tão contente por estar de volta a sós
contigo. – Ele estava sempre comigo, é verdade, mas meu quarto tornou-se um
lugar sagrado, muito especial. Algumas vezes, quando não ia trabalhar, eu
ficava em casa o dia todo em comunhão com Ele.
O que eu estava fazendo?
Tendo comunhão. Comunhão com o Espírito. Quando não estava no emprego ou em meu
quarto, eu tentava ir à igreja. Mas, não contava a ninguém o que acontecia
comigo.
Quando saía de casa pela
manhã, Ele me acompanhava. Eu sentia alguém ao meu lado. No ônibus sentia o
ímpeto de falar com Ele, mas não queria que as pessoas pensassem que era louco.
Mesmo no trabalho, eu falava com Ele baixinho em certas horas. No almoço, Ele
era o meu companheiro. Mas dia após dia, ao chegar em casa, subia a escada aos
tropeções, fechava a porta do quarto e dizia: – Agora estamos sozinhos.
E minha jornada
espiritual continuava.
Unção no carro
Quero explicar que muitas
vezes eu não notava sua presença. Sabia
que estava comigo, mas me acostumara tanto a Ele que não sentia mais a
eletricidade daquelas ocasiões especiais.
Outras pessoas, porém,
sentiam. Muitas vezes, quando meus amigos vinham ver-me, eles começavam a
chorar por causa da presença do Espírito Santo.
Certo dia, Jim Poynter me
telefonou, dizendo: – Vou buscar você para levá-lo a uma igreja Metodista onde
estou cantando. Pode cantar comigo se quiser. – Eu não era um verdadeiro cantor,
mas ajudava de vez em quando.
Nessa tarde, a unção do
espírito me envolveu novamente. Depois ouvi Jim apertando a buzina. Quando
desci correndo a escada e fui até o carro, eu senti a presença do Senhor
correndo comigo.
No momento em que pulei
para o assento dianteiro e fechei a porta, Jim começou a chorar. Ele cantou
depois o coro “Aleluia! Aleluia!”, e, voltando-se para mim disse: - Benny,
posso sentir o Espírito Santo neste carro.
É claro que Sua presença
está neste carro – respondi. – Onde mais poderia estar?
Isso para mim se tornara
normal, mas Jim quase não conseguia dirigir. Ele continuou a chorar diante do
Senhor.
Certa vez minha mãe
estava limpando o corredor, enquanto eu falava com o Espírito Santo. Quando eu
saí, ela quase foi derrubada. Algo a empurrou contra a parede. Eu disse: – O
que aconteceu, mamãe? – Ela replicou: – Não sei. – A presença do Senhor quase a
fez cair.
Meus irmãos irão contar
sobre as vezes em que se aproximavam de mim e não sabiam o que estava
acontecendo, mas sentiam alguma coisa extraordinária.
Com o passar do tempo,
perdi a vontade de sair com os jovens da igreja só para me divertir. Eu queria
ficar com o Senhor, dizendo muitas vezes: – Senhor, prefiro isto a qualquer
coisa que o mundo possa oferecer. – Eles podiam ter os seus jogos, suas
diversões, seu futebol – eu não precisava disso.
O que eu quero, eu já
tenho – eu disse ao Senhor. – O que quer que seja, não permita que vá embora.
Comecei a compreender melhor o desejo do apóstolo Paulo pela “comunhão do
Espírito”.
Henry, Mary, Sammy e Willie
Agora, até os membros de
minha família tinham começado a fazer perguntas. O Espírito Santo permeou de
tal forma nossa casa, que meus irmão e irmãs começaram a demonstrar sede
espiritual.
Um a um, eles me
procuravam para fazer indagações. Eles diziam: – Benny, tenho observado você.
Esse Jesus é real, não e?
Minha irmã Mary entregou
seu coração ao Senhor. E em poucos meses me irmãozinho Sammy foi salvo. Depois
veio o Willie.
Tudo o que eu podia fazer
era gritar: “Aleluia!”. Estava acontecendo, e eu nem sequer começara a pregar.
A essa altura meu pai
estava praticamente insano, estaria perdendo a família inteira para Jesus? Ele
não sabia como enfrentar a situação. Mas não havia dúvidas de que minha mãe e
meu pai podiam ver a transformação que ocorrera em mim, em meus dois irmãos e
em Mary.
Quando dei minha vida ao
Senhor, tive alguns encontros maravilhosos com Ele.
Mas eles nada
significavam em comparação com o meu andar diário com o Espírito Santo.
O Senhor visitava agora
realmente o meu quarto. A glória enchia aquele lugar. Alguns dias eu orava de joelhos, adorando ao
Senhor, durante oito, nove ou dez horas seguidas. O ano de 1974 derramou um
fluxo sem fim do poder de Deus em minha vida. Bastava eu dizer: – Bom dia,
Espírito Santo – e tudo começava. A glória do Senhor permaneceu comigo.
Certo dia, no mês de
abril, eu pensei: – Deve haver uma razão para isso . – Perguntei, então: –
Senhor, por que está fazendo tanto para mim? – Eu sabia que Deus não
proporciona piqueniques espirituais para as pessoas para sempre.
Comecei então a orar e
foi isto que Deus me revelou:
Vi alguém de pé em minha
frente. As chamas o rodeavam completamente e ele se movia sem qualquer controle.
Seus pés tocavam o solo. A boca desse ser abria e fechava – à semelhança do que
a palavra descreve como “ranger de dentes”.
Nesse momento o Senhor
falou comigo, em voz audível, dizendo: – Pregue o evangelho.
Minha resposta foi,
naturalmente: – Mas, Senhor, não sei falar.
Duas noites mais tarde o
Senhor me deu um segundo sonho. Eu vi um anjo. Ele tinha uma corrente na mão,
presa a uma porta que parecia encher todo o céu. Ele a abriu, e lá dentro havia
uma multidão incontável. Almas. Elas estavam se movendo em direção a um vale
grande e profundo, e o vale era um inferno de fogo crepitante.
Dava medo. Vi milhares de
pessoas caindo naquele fogo. As da primeira fila tentavam lutar, mas o peso da
multidão os empurrava para as chamas.
O Senhor falou de novo
comigo. Ele disse muito claramente: – Se você não pregar, todos os que caírem
serão sua responsabilidade. – Eu soube no mesmo instante que tudo que
acontecera na minha vida tinha um propósito – pregar o evangelho.
Aconteceu em Oshawa
A comunhão continuou. A
glória continuou. A presença do Senhor não foi embora, mas intensificou-se. A palavra tornou-se mais
real. A minha vida de oração fortaleceu-se.
Finalmente, em novembro
de 1974, não pude mais evitar o assunto. Eu disse ao Senhor: - pregarei o
evangelho com uma condição: o Senhor ficará comigo em cada culto. – A seguir,
eu fiz com que lembrasse: – Senhor, Tu sabes que não posso falar. – Eu me
preocupava muito com a minha dificuldade em falar e com o fato de que iria
ficar embaraçado.
Era impossível, porém
apagar de minha mente o quadro de um homem queimando e as palavras do Senhor –
se você não pregar, todo aquele que cair será sua responsabilidade.
Pensei, – preciso começar
a pregar. – Mas entregar folheto não seria suficiente?
Numa tarde, na primeira
semana de dezembro, eu estava sentado na casa de Stan e Shirley Phillips em
Osawa, a cerca de 480 km
a leste de Toronto.
Posso dizer uma coisa a
vocês? – perguntei. Eu nunca tivera a vontade de contar a alguém toda a
história de minhas experiências, sonhos e visões. Mas durante quase três horas,
eu abri o coração, contando a eles coisas que só o Senhor e eu conhecíamos.
Antes de terminar,
Stanley me interrompeu, dizendo – Benny, você precisa ir à nossa igreja hoje e
falar sobre isso. – Eles tinham uma comunidade chamada Shilo – cerca de cem pessoas,
na Assembléia de Deus de Trinity, em Osawa.
Gostaria que me visse.
Meu cabelo chegava aos ombros e eu não tinha me vestido para ir à igreja porque
o convite fora totalmente inesperado.
Mas em 07 de dezembro de
1974, Stan me apresentou ao grupo e pela primeira vez em minha vida entrei num
púlpito para pregar.
No instante em que abri a
boca, senti algo tocar minha língua e libertá-la. Parecia um adormecimento, e
comecei a proclamar a palavra de Deus com a mais absoluta fluência.
O que surpreendeu é que
Deus não me curou quando eu estava sentado no auditório.
Ele não me curou quando
subi para a plataforma. Ele me curou quando entrei no púlpito.
Deus realizou o milagre
quando abri a boca.
Quando minha língua
soltou-se, eu disse: – É isso! – A gagueira se fora. Todinha. E não voltou
mais. Meus pais não sabiam que eu tinha sido curado porque a comunicação em
nossa casa era mínima. É claro que certas ocasiões eu conseguia falar por curto
espaço de tempo sem que meu problema fosse notado, antes que alguma coisa me
fizesse gaguejar de novo.
Mas eu sabia que estava
curado. E meu ministério começou a crescer rapidamente.
Parecia que eu era convidado
todos os dias para ministrar em uma igreja ou grupo comunitário.
Eu me sentia no centro da
perfeita Vontade de Deus
Vou morrer
Nos cinco meses seguintes
fui um pregador, sem que meus pais soubessem. Manter a situação em segredo por
tanto tempo foi praticamente um milagre. Meus irmãos sabiam, mas não ousavam
contar a papai, porque seria o fim de Benny.
No jornal Toronto Star,
em abril de 1975 foi publicado um anúncio com a minha fotografia. Eu estava
pregando numa pequena igreja pentecostal no lado oeste da cidade e o pastor
queria atrair alguns visitantes.
Funcionou. Constandi e
Clemence viram o anúncio. Eu estava sentado na plataforma naquela noite de
domingo. Levantei os olhos e não podia crer no que estava vendo. Meus pais
caminhavam para um assento nas poucas fileiras da plataforma.
Pensei: – Chegou a hora.
Vou morrer.
Meu bom amigo Jim Poynter
estava sentado na plataforma ao meu lado. Virei-me para ele e disse: – Ore,
Jim! Ore! – Ele ficou pasmo quando falei da presença de meus pais.
Milhares de pensamentos
passaram pela minha mente, sendo este um deles: – Senhor, saberei que realmente
estou curado se não gaguejar esta noite. – Lembrei-me de uma outra vez em que
também ficara nervoso durante uma reunião e a ansiedade sempre me levava a
gaguejar.
Quando comecei a
pregação, o poder da presença de Deus começou a fluir através de mim, mas eu
não conseguia olhar na direção dos meus pais, nem um instante sequer. Só sabia
que a minha preocupação com a gagueira tinha sido desnecessária. Quando Deus me
curou, a cura foi permanente.
Perto do final do culto,
comecei a orar pelos que precisavam de cura. Oh!, Como o poder de Deus encheu
aquele lugar! Ao terminar a reunião, meus pais se levantaram e saíram pela
porta de trás. Eu disse mais tarde a Jim: – Você precisa orar. Sabe que nas
próximas horas vai ser decidido o meu destino? Talvez tenha de dormir hoje em
sua casa.
Naquela noite fiquei
rodando sem rumo pelas ruas de Toronto. Eu queria esperar pelos menos até duas
horas da manhã para entrar em casa, pois tinha certeza que meus pais estariam
dormindo a essa hora.
Eu não queria ter de
enfrentá-los.
Mas falarei sobre isto depois.
rar. Ma� ! � f �f o que dizer. A “Ave Maria”, não me parecia
apropriada para o que estava sentindo. Eu jamais aprendera a “oração do
pecador“ em qualquer uma de minhas aulas de religião. Tudo que conseguia
lembrar de meus encontros com o “povo de Jesus” era a frase: “Você precisa
conhecer Jesus”. Essas palavras pareciam
deslocadas para mim porque eu achava que O conhecia.
Foi um momento
embaraçoso. Ninguém estava orando comigo ou sequer por mim.
Todavia, a atmosfera
espiritual mais intensa que já sentira me cercava. Seria eu um pecador? Não
achava que era. Eu era apenas um bom rapazinho católico, que orava todas as
noites e confessava o seu pecado quer necessitasse ou não.
Mas naquele instante
fechei os olhos e disse três palavras que mudaram a minha vida para sempre. Eu
disse em voz alta: – Volte, Senhor Jesus.
Não sei por que falei
isso, mas foi só o que saiu da minha boca. Repeti várias vezes essas palavras:
– Volte, Senhor Jesus, Volte, Senhor Jesus.
Eu pensava que Ele saíra
da minha casa ou de minha vida? Na verdade não sabia.
Mas no momento em que
pronunciei essas palavras um sentimento estranho me envolveu, levando-me de
volta ao torpor que sentira aos onze anos. Era menos intenso, mas a voltagem
daquela mesma força se repetira em
mim. Ela me atravessava.
O que realmente percebi,
no entanto, foi aquela onda de poder me purificando – instantaneamente, de
dentro para fora. Eu me senti absolutamente limpo, imaculado e puro.
De repente via a Jesus
com os meus próprios olhos. Aconteceu num momento. Ali estava Ele, Jesus.
Cinco para as oito
Os alunos ao meu redor
não podiam saber o que se passava comigo. Estavam todos orando. A seguir, um a
um, eles começaram a sair da sala dirigindo-se para as classes.
Faltavam cinco minutos
para as oito horas da manhã. A essa altura eu me encontrava ali sentado,
chorando. Não sabia o que fazer nem o que dizer.
Não entendi na hora o que
ocorrera, mas Jesus se tornou tão real para mim como o chão debaixo dos meus
pés. Eu não fiz qualquer oração, além daquelas três palavras.
Sabia, porém, sem
qualquer dúvida, que algo extraordinário acontecera naquela manhã de fevereiro.
Atrasara-me para a aula
de História, que era uma das minhas matérias favoritas.
Estávamos estudando a
Revolução Chinesa. As palavras do professor ficaram, entretanto, perdidas para
mim. Não me lembro de nada do que foi dito. A sensação que começara naquela
manhã não me abandonava. Cada vez que eu fechava os olhos, ali estava Ele –
Jesus. E mesmo quando abria os olhos, Ele continuava ali. O semblante do Senhor
não me deixava.
Fiquei enxugando as
lágrimas dos olhos o dia inteiro. E a única coisa que podia dizer era: – Jesus,
eu O amo... Jesus, eu O amo.
Quando saí da escola
andei pela calçada até a esquina, olhei para a janela da biblioteca e as peças
do quebra-cabeça começaram a se encaixar.
O anjo. O sonho. Tudo
voltou.
O que Deus estava
querendo dizer-me?
O que ocorria com Benny?
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